quarta-feira, 11 de abril de 2012

A Piedade

17. A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos;
é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus. Ah! deixai
que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das
misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes. Vossas
lágrimas são um bálsamo que lhes derramais nas feridas e,
quando, por bondosa simpatia, chegais a lhes proporcionar
a esperança e a resignação, que encanto não experimentais!
Tem um certo amargor, é certo, esse encanto, porque
nasce ao lado da desgraça; mas, não tendo o sabor
acre dos gozos mundanos, também não traz as pungentes
decepções do vazio que estes últimos deixam após si. Envolve-
o penetrante suavidade que enche de júbilo a alma. A
piedade, a piedade bem sentida é amor; amor é devotamento;
devotamento é o olvido de si mesmo e esse olvido, essa
abnegação em favor dos desgraçados, é a virtude por ex-
celência, a que em toda a sua vida praticou o divino
Messias e ensinou na sua doutrina tão santa e tão sublime.
Quando esta doutrina for restabelecida na sua pureza
primitiva, quando todos os povos se lhe submeterem, ela
tornará feliz a Terra, fazendo que reinem aí a concórdia, a
paz e o amor.
O sentimento mais apropriado a fazer que progridais,
domando em vós o egoísmo e o orgulho, aquele que dispõe
vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor do próximo,
é a piedade! piedade que vos comove até às entranhas
à vista dos sofrimentos de vossos irmãos, que vos
impele a lhes estender a mão para socorrê-los e vos arranca
lágrimas de simpatia. Nunca, portanto, abafeis nos vossos
corações essas emoções celestes; não procedais como
esses egoístas endurecidos que se afastam dos aflitos, porque
o espetáculo de suas misérias lhes perturbaria por instantes
a existência álacre. Temei conservar-vos indiferentes,
quando puderdes ser úteis. A tranqüilidade comprada
à custa de uma indiferença culposa é a tranqüilidade do
mar Morto, no fundo de cujas águas se escondem a vasa
fétida e a corrupção.
Quão longe, no entanto, se acha a piedade de causar o
distúrbio e o aborrecimento de que se arreceia o egoísta!
Sem dúvida, ao contacto da desgraça de outrem, a alma,
voltando-se para si mesma, experimenta um confrangimento
natural e profundo, que põe em vibração todo o ser e o
abala penosamente. Grande, porém, é a compensação, quando
chegais a dar coragem e esperança a um irmão infeliz
que se enternece ao aperto de uma mão amiga e cujo olhar,
úmido, por vezes, de emoção e de reconhecimento, para
vós se dirige docemente, antes de se fixar no Céu em agradecimento
por lhe ter enviado um consolador, um amparo.
A piedade é o melancólico, mas celeste precursor da caridade,
primeira das virtudes que a tem por irmã e cujos benefícios
ela prepara e enobrece. – Miguel. (Bordéus, 1862.)

O Livro dos Espíritos – Cap. XIII – Item 17.

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