“Se alguém julga ser profeta ou inspirado pelo
Espírito, reconheça um
mandamento do Senhor nas coisas que estou escrevendo para vocês” (PAULO, aos coríntios).
mandamento do Senhor nas coisas que estou escrevendo para vocês” (PAULO, aos coríntios).
Introdução
A mediunidade é uma
faculdade humana que consiste na sintonia espiritual entre dois seres.
Normalmente, a usamos para designar a influência de um Espírito desencarnado
sobre um encarnado, entretanto, julgamos que, acima de tudo, por se tratar de
uma aquisição do Espírito imortal, pouco importa a situação em que se encontram
esses dois seres, para que se processe a ligação espiritual entre eles.
É comum que ataques ao
Espiritismo ocorram por conta desse “dom”, como se ele viesse a acontecer
exclusivamente em nosso meio. Ledo engano, pois, conforme já o dissemos, é uma
faculdade humana, e assim sendo, todos a possuem, variando apenas quanto ao seu
grau.
Os detratores querem, por
todos os meios, fazer com que as pessoas acreditem que isso é coisa nova, mas
podemos provar que a mediunidade não é coisa nova e que até mesmo Jesus dela
pode nos dar notícias. É o que veremos a seguir.
A mediunidade e Jesus
Quando Jesus recomenda a
seus doze discípulos a divulgação de que o “reino do Céu está próximo” fica
evidenciado, aos que estudaram ou vivenciam esse fenômeno, que o Mestre estava
falando mesmo era da faculdade mediúnica. Entretanto, por conta dos tradutores
ou dos teólogos, essa realidade ficou comprometida no texto bíblico.
Entretanto, como é impossível “tapar o sol com uma peneira”, podemos
perfeitamente identificá-la, apesar de todo o esforço para escondê-la.
O evangelista Mateus
narra o seguinte:
“Eis que eu envio
vocês como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as
serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles
entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão
ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem
testemunhas para eles e para as nações. Quando entregarem vocês, não fiquem
preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será
sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão
falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. (10,16-20).
A primeira observação que
faremos é que por ter tentado a Eva, dizem que a serpente seria o próprio
satanás, entretanto, isso fica estranho, porquanto o próprio Jesus nos
recomenda sermos prudentes como as serpentes. Esse fato demonstra que tal associação
é apenas fruto do dogmatismo que só produz o fanatismo religioso.
Essa fala de Jesus é
inequívoca quanto ao fenômeno mediúnico: “não fiquem preocupados
como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a
vocês”, e arremata: “Com efeito, não serão vocês que
irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”.
A tentativa de esconder o fenômeno fica por conta da expressão “o Espírito do
Pai”, quando a realidade é “um Espírito do Pai” a mudança do artigo indefinido
para o artigo definido tem como objetivo principal desvirtuar a fenomenologia
em primeiro plano e em segundo, mais um ajuste de texto bíblico para apoiar a
trindade divina copiada dos povos pagãos.
O filósofo e teólogo
Carlos Torres Pastorino abordando a questão da mudança do artigo, diz:
“...Novamente sem artigo.
Repisamos: a língua grega não possuía artigos indefinidos. Quando a palavra era
determinada, empregava-se o artigo definido ‘ho, he, to’. Quando era
indeterminada (caso em que nós empregamos o artigo indefinido), o grego deixava
a palavra sem artigo. Então quando não aparece em grego o artigo, temos que
colocar, em português, o artigo indefinido: UM espírito santo, e nunca traduzir
com o definido: O espírito santo”. (Sabedoria do Evangelho, volume 1,
pág 43).
Se sustentarmos a
expressão “o Espírito do Pai” teremos forçosamente que admitir que o próprio
Deus venha a se manifestar num ser humano. Pensamento absurdo como esse só pode
ser pela falta de compreensão da grandeza de Deus. Dizem os cientistas que no
cosmo há 100 bilhões de galáxias, cada uma delas com cerca de 100 bilhões de
estrelas, fazendo do Universo uma coisa fora do alcance de nossa limitada
imaginação, mas, mesmo que a custa de um grande esforço, vamos imaginar tamanha
grandeza. Bom, façamos agora a pergunta: o que criou tudo isso? Diante disso,
admitir que esse ser possa estar pessoalmente inspirando uma pessoa é fora de
proposto, coisa aceitável a de povos primitivos, cujos conhecimentos não lhes
permitem ir mais longe, por restrição imposta pelo seu hábitat.
A mediunidade no apostolado
Um fato, que reputamos
como de inquestionável ocorrência da mediunidade, aconteceu logo depois da
morte de Jesus, quando os discípulos reunidos receberam“como que línguas de
fogo” e começaram a falar em línguas, de tal sorte que, apesar da
heterogeneidade do povo que os ouvia, cada um entendia o que falavam em sua
própria língua. Fato extraordinário registrado no livro Atos dos Apóstolos,
desta forma:
“Quando chegou o dia de
Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do
céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se
encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e
foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e
começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que
falassem. Acontece que em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações
do mundo. Quando ouviram o barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois
cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem”. (Atos 2, 1-6).
Aqui podemos identificar
o fenômeno mediúnico conhecido como xenoglossia, que na definição do Aurélio é:
A fala espontânea em língua(s) que não fora(m) previamente aprendida(s). Mas,
como da vez anterior, tentam mudar o sentido, para isso alteram o artigo
indefinido para o definido, quando a realidade seria exatamente que estavam
“repletos de um Espírito santo (bom)”.
Fato semelhante
aconteceu, um pouco mais tarde, nomeado como o Pentecostes dos pagãos:
“Pedro ainda estava
falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra. Os
fiéis de origem judaica, que tinham ido com Pedro, ficaram admirados de que o
dom do Espírito Santo também fosse derramado sobre os pagãos. De fato, eles os
ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus...” (At 10, 44-46).
Episódio que confirma que “Deus
não faz acepção de pessoas” (At 10,34), daí podermos estender à
mediunidade como uma faculdade exclusiva a um determinado grupo religioso, mas
existindo em todos segmentos em suas expressões de religiosidade.
A mediunidade como era “transmitida”
A bem da verdade não há
como ninguém transmitir a mediunidade para outra pessoa, entretanto, pelos
relatos bíblicos, a imposição das mãos fazia com que houvesse sua eclosão,
óbvio que naqueles que a possuíam em estado latente. Vejamos algumas situações
em que isso ocorreu.
Em Atos 8, 17-18:
“Então Pedro e João
impuseram as mãos sobre os samaritanos, e eles receberam o Espírito Santo.
Simão viu que o Espírito Santo era comunicado através da imposição das mãos.
Dêem para mim também esse poder, a fim de que receba o Espírito todo aquele
sobre o qual eu impuser as mãos”.
Simão era um mago que,
com suas artes mágicas, deixava o povo da região de Samaria maravilhado. Mas,
ao ver o “poder” de Pedro e João, ficou impressionado com o que fizeram, daí
lhes oferece dinheiro a fim de que dessem a ele esse poder, para que sobre
todos os que ele impusesse as mãos, também recebessem o Espírito Santo.
Em Atos 19, 1-7:
“Enquanto Apolo estava em
Corinto, Paulo atravessou as regiões mais altas e chegou a Éfeso. Encontrou aí
alguns discípulos, e perguntou-lhes: ‘Quando vocês abraçaram a fé receberam o
Espírito Santo?’ Eles responderam: ‘Nós nem sequer ouvimos falar que existe um
Espírito Santo’. Paulo perguntou: ‘Que batismo vocês receberam?’ Eles
responderam: ‘O batismo de João’. Então Paulo explicou: ‘João batizava como
sinal de arrependimento e pedia que o povo acreditasse naquele que devia vir
depois dele, isto é, em Jesus’. Ao ouvir isso, eles se fizeram batizar em nome
do Senhor Jesus. Logo que Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu
sobre eles, e começaram a falar em línguas e a profetizar. Eram, ao todo, doze
homens”.
Será que podemos entender
que o batismo de Jesus é “receber o Espírito Santo”, conseguido pela imposição
das mãos? A narrativa nos leva a aceitar essa hipótese, apenas mantemos a
ressalva feita anteriormente quanto à expressão “o Espírito Santo”.
A mediunidade como os dons do
Espírito
Na estrada de Damasco,
Paulo, que até então perseguia os cristãos, numa ocorrência transcendente, se
encontra com Jesus, passando, a partir daí, a segui-lo. Durante o seu
apostolado se comunicava diretamente com o Espírito de Jesus, demonstrando sua
incontestável mediunidade.
Aliás, o apóstolo Paulo
foi quem mais entendeu do fenômeno mediúnico, tanto que existem recomendações
preciosas de sua parte aos agrupamentos cristãos de então. Ele o chamava de “dons
do Espírito”. “Sobre os dons do Espírito, irmãos, não quero que
vocês fiquem na ignorância” (1Cor 12,1), mostrando-se interessado em
que todos pudessem conhecer tais fenômenos.
E esclarece o apóstolo
dos gentios:
“Existem dons diferentes,
mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo;
diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um
recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o
Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o
mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e
mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a
outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de
falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo
Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme
ele quer”. (1 Cor 12,4-11).
Novamente, mudando-se “o
Espírito” para “um Espírito”, estaremos diante da faculdade mediúnica, basta
“ter olhos de ver”.
Ao que parece, naquela
época, os médiuns se preocupavam mais com a xenoglossia Paulo para desfazer
esse engano novamente faz outras recomendações aos coríntios (1Cor 14,1-25).
Disse ele:
“...aspirem aos dons
do Espírito, principalmente à profecia. Pois aquele que fala em línguas não
fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, diz
coisas incompreensíveis. Mas aquele que profetiza fala aos homens: edifica,
exorta, consola. Aquele que fala em línguas edifica a si mesmo, ao passo que
aquele que profetiza edifica a assembléia. Eu desejo que vocês todos falem em
línguas, mas prefiro que profetizem. Aquele que profetiza é maior do que aquele
que fala em línguas, a menos que este mesmo as interprete, para que a
assembléia seja edificada...”.
Conclusão
Como apregoa a Doutrina
Espírita o fenômeno mediúnico nada mais é que uma ocorrência de ordem natural.
Podemos identificá-lo desde os mais remotos tempos da humanidade, e não poderia
ser diferente, pois, em se tratando de uma manifestação de uma faculdade
humana, deverá ser mesmo tão velha quanto a permanência do homem aqui na Terra.
Mas, infelizmente, a
intolerância religiosa, a ignorância e, por vezes, a má-vontade, não permitiu
que fosse divulgada da forma correta, ficando mais por conta de uma ocorrência
sobrenatural, que só acontecia a uns poucos privilegiados. Coube ao Espiritismo
a desmistificação desse fenômeno, bem como a sua explicação racional. Kardec
nos deixou um legado importantíssimo para todos que possam se interessar pelo
assunto, quando lança O Livro dos Médiuns, que recomendamos aos que
buscam o conhecimento dessa fenomenologia, ainda muito incompreendida em nossos
dias.
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