Harry Gold sempre fora um garoto ansioso pelos estudos. Cresceu pobre e quando concluiu o segundo grau, arranjou um emprego. A sua renda era indispensável para a família e seu sonho precisou esperar.
Veio a guerra e ele foi parar no exército. Quando voltou, retornou ao trabalho. Eram tempos difíceis. Ele arranjou um emprego como vendedor-motorista.
Como muitos dos seus clientes tinham ficado com refrigerantes encalhados em suas lojas, durante a guerra, não desejavam nada além de devolver as garrafas vazias e encerrar tudo.
Mas Harry começou a negociar. Que tal eu lhe trazer os seis dólares que lhe devemos pela devolução das garrafas vazias em refrigerante? Não vai lhe custar nada e a nós dois dará a oportunidade de ganhar algum dinheiro.
Foi assim que ele começou a conquistar postos mais altos na empresa. Supervisor. Gerente de filial, Gerente de vendas.
Então surgiram os sintomas de uma doença rara e progressiva, que causa danos às terminações nervosas. Colocou aparelho nas pernas, passou a usar bengala, sem lamentações.
Em 1993, ele finalmente conseguiu realizar seu grande sonho. Ir para a faculdade. Era um homem maduro. Poderia ser avô daqueles garotos.
Quando chegou para a primeira aula, olhou aqueles jovens de vinte e poucos anos e se perguntou o que estava fazendo ali.
Sentia-se deslocado, escrevia de forma irregular por causa dos dedos enrijecidos.
Certo dia, um dos colegas de turma se dirigiu a ele e lhe perguntou:
Por que está fazendo isso? O restante de nós, como você sabe, precisa estar aqui para conseguir um bom emprego.
Foi o bastante para trazer o lutador de sempre de volta à vida.
Veja só, eu fiz o contrário. Primeiro precisei conseguir um emprego e depois levei cinquenta anos para chegar aqui.
Colocou a mão no ombro do rapaz e acrescentou de forma amiga:
Descobri que aprender não é apenas uma questão de conseguir um bom emprego.
Ele se tornou um tesouro para a turma. Ali, na primeira fila, sentava-se uma pessoa que se lembrava dos tempos da Depressão nos Estados Unidos, que lutara na Segunda Guerra Mundial e que vivera os anos da Guerra Fria. Quando ele falava, era possível sentir o peso das suas experiências.
* * *
Harry Gold concluiu a sua graduação.
Na festa de formatura, quando lhe perguntaram o que iria fazer em seguida, ele respondeu que estava se matriculando em Mestrado.
E, porque alguém brincasse, perguntando se depois ele faria um Doutorado, ele respondeu sorrindo: Claro.
A Universidade lhe deu uma bolsa de estudos para o Mestrado. Tudo porque todos aprenderam com Harry Gold que não há idade para aprender e nem obstáculos que não possam ser superados.
Para estudar e crescer não importa idade ou condição física. O importante é querer estudar.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo O último calouro, da revista Seleções Reader's Digest, de março de 2000.
Em 08.07.2011.
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