quarta-feira, 27 de abril de 2011

O planeta Vênus

 (Ditado espontâneo. - Médium, Sr. Costel.)
O planeta Vênus é o ponto intermediário entre Mercúrio e Júpiter; seus habitantes têm a mesma conformação física que a vossa; o mais ou menos de beleza e de idealidade nas formas é a única diferença delineada entre os seres criados. A sutileza do ar, em Vênus, comparável à das altas montanhas, torna-o impróprio aos vossos pulmões; as doenças ali são ignoradas. Seus habitantes não se nutrem senão de frutas e de laticínios; ignoram o bárbaro costume de se nutrirem de cadáveres de animais, ferocidade que não existe senão nos planetas inferiores; em conseqüência, as grosseiras necessidades do corpo são destruídas, e o amor se enfeita de todas as paixões e de todas as perfeições apenas sonhadas sobre a Terra.
Como na madrugada onde as formas se revestem indecisas e alagadas nos vapores da manhã, a perfeição da alma, perto de ser completa, tem as ignorâncias e os desejos da infância feliz. A própria natureza reveste a graça da felicidade velada; suas formas flácidas e arredondadas não têm as violências e as asperezas dos panoramas terrestres; o mar, profundo e calmo, ignora a tempestade; as árvores não se curvam jamais sob o esforço da tempestade e o inverno não as despoja de sua verdura; nada é estridente; tudo ri, tudo é doce. Os costumes, cheios de quietude e de ternura, não têm necessidade de nenhuma repressão para ficarem puros e fortes.
A forma política reveste a expressão da família; cada tribo, ou aglomeração de indivíduos, tem seu chefe pela classe de idade. Ali a velhice é o apogeu da dignidade humana, porque ela aproxima do objetivo desejado; isenta de enfermidades e de fealdade, ela é calma e irradiante como uma bela tarde de outono.
A indústria terrestre, aplicada à pesquisa inquieta do bem-estar material, é simplificada e quase desaparece nas regiões superiores, onde não tem nenhuma razão de ser; as artes sublimes a substituem e adquirem um desenvolvimento e uma perfeição que os vossos sentidos espessos não podem imaginar.
As vestes são uniformes; grandes túnicas brancas envolvem com suas pregas harmoniosas o corpo, que não desnaturam. Tudo é fácil para esses seres que não desejam senão Deus e que, despojados dos interesses grosseiros, vivem simples e quase luminosos.
GEORGES.
(Perguntas sobre o ditado precedente; Sociedade de Paris; 27 de junho de 1862. Médium, Sr. Costel.)
1. Destes ao vosso médium predileto uma descrição do planeta Vênus, e estamos encantados de vê-la concordar com o que já nos foi dito, todavia, com menos de precisão. Pedimos consentir em completá-la, respondendo a algumas perguntas.
Quereis nos dizer, primeiro, como tendes conhecimento desse mundo? - R. Eu sou errante, mas inspirado por Espíritos superiores. Fui enviado em missão a Vênus.
2. Os habitantes da Terra podem ali estar encarnados diretamente saindo daqui? - R. Deixando a Terra, os seres mais avançados sofrem a erraticidade durante um tempo mais ou menos prolongado, que despoja inteiramente dos laços carnais, rompidos imperfeitamente pela morte.
Nota. -A questão não era saber se os habitantes da Terra podem ali estar encarnados imediatamente depois da morte, mais diretamente, quer dizer, sem passar por mundos intermediários. Ele respondeu que isso é possível para os mais avançados.
3. O estado de adiantamento dos habitantes de Vênus lhes permite lembrarem de sua estada nos mundos inferiores, e de estabelecerem uma comparação entre as duas situações? - R. Os homens olham para trás pelos olhos do pensamento, que reconstrói num único impulso ao passado desvanecido. Assim o Espírito avançado vê com a mesma rapidez que se move, rapidez mais fulminante que a da eletricidade, bela descoberta que se liga estreitamente à revelação do Espiritismo; ambos levam neles o progresso material e intelectual.
Nota. - Para estabelecer uma comparação, não é necessário saber que posição se ocupou pessoalmente; basta conhecer o estado material e moral dos mundos inferiores, pelos quais se teve que passar para apreciar-lhes a diferença. Segundo o que nos foi dito do planeta Marte, devemos nos felicitar por ali não estar mais; e, sem sair da Terra, basta considerar os povos bárbaros e ferozes e sabermos que tivemos que passar por esse estado, para nos sentir mais felizes. Não temos sobre os outros mundos senão notícias hipotéticas; mas pode que, naqueles que estão mais avançados do que nós, esse Conhecimento tenha um grau de certeza que não nos é dado.
4. A duração da vida ali é proporcionalmente mais longa ou mais curta do que sobre a Terra? - R. A encarnação, em Vênus, é infinitamente mais longa do que não o é a prova terrestre; despojada das violências humanas, detida e impregnada pela vivificante influência que a penetra, ensaia as asas que a levarão nos planetas gloriosos de Júpiter, ou outros semelhantes.
Nota. - Assim como já fizemos observar, a duração da vida corpórea parece ser proporcional ao adiantamento dos mundos. Deus, em sua bondade, quis abreviar a prova nos mundos inferiores. Por essa razão se junta uma causa física, é que, quanto mais os mundos são avançados, menos os corpos são usados para a devastação das paixões e das doenças que lhes são as conseqüências.
O caráter sob o qual pintais os habitantes de Vênus deve nos fazer supor que não há entre eles nem guerras, nem querelas, nem ódios, nem ciúmes? - R. Os homens não se tornam senão o que as palavras podem exprimir, e seu pensamento limitado está privado do infinito; assim atribuis sempre, mesmo aos planetas superiores, as vossas paixões e os vossos motivos inferiores, vírus depositado em vossos seres pela grosseria do ponto de partida, e do qual não vos curais senão lentamente. As divisões, as querelas, as guerras, são desconhecidas em Vênus, tão desconhecidas quanto é entre vós a antropofagia.
Nota. - A Terra, com efeito, nos apresenta, pela inumerável variedade dos graus sociais, uma infinidade de tipos que pode nos dar uma idéia dos mundos onde cada um desses tipos é o estado normal.
6. Qual é o estado da religião nesse planeta? - R. A religião é a adoração constante e ativa do Ser supremo; adoração despojada de todo erro, quer dizer, de todo culto idolatra.
7. Todos os habitantes estão no mesmo grau, ou bem os há, como sobre a Terra, os mais ou menos avançados? Neste caso, a que habitantes da Terra correspondem os menos avançados? - R. A mesma desigualdade proporcional existe entre os habitantes de Vênus quanto entre os seres terrestres. Os menos avançados são as estrelas do mundo terrestre, quer dizer, os gênios e os homens virtuosos.
8. Há senhores e servidores? - R. A servidão é o primeiro grau da iniciação. Os escravos da antigüidade, como os da América moderna, são seres destinados a progredir num meio superior àquele que habitaram em sua última encarnação. Por toda a parte os seres inferiores estão subordinados aos seres superiores; mas em Vênus essa subordinação moral não pode ser comparada à subordinação corpórea, tal qual existe sobre a Terra. Os superiores não são os senhores, mas os pais dos inferiores; em lugar de explorá-los, ajudam o seu adiantamento.
9. Vênus chegou gradualmente ao estado em que está? Passou anteriormente pelo estado em que está a Terra e mesmo Marte? - R. Reina uma admirável unidade no conjunto da obra divina. Os planetas, como os indivíduos, como tudo o que é criado, animais e plantas, progridem inevitavelmente. A vida, em suas expressões variadas, é uma ascensão perpétua para o Criador; ela desenrola, numa imensa espiral, os graus de sua eternidade.
10. Tivemos comunicações concordantes sobre Júpiter, Marte e Vênus; porque não tivemos sobre a lua senão coisas contraditórias e que não puderam fixar a opinião? - R. Essa lacuna será preenchida, e logo tereis sobre a lua revelações tão nítidas, tão precisas quanto às que obtivestes sobre outros planetas. Se elas não vos foram ainda dadas, disso compreendereis mais tarde a razão.
Nota. Essa descrição de Vênus, sem dúvida, não tem nenhum dos caracteres de uma autenticidade absoluta, e também não a damos senão a título condicional. No entanto, o que já foi dito desse mundo, lhe dá, pelo menos, um grau de probabilidade, e, seja como for, o que não é menos o quadro de um mundo que deve, necessariamente, existir para todo homem que não tenha a orgulhosa pretensão de crer que a Terra é o apogeu da perfeição humanaé um anel na escala dos mundos, é um grau necessário àqueles que não sentem a força de ir sem dificuldade a Júpiter.



Fonte:
Revista Espírita, agosto de 1862
Site: www.espirito.org.br 

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